06 julho, 2011

Qualquer truque contra a emoção...


"Garotos perdem tempo pensando/ em brinquedos e proteção/ romance de estação, desejo sem paixão/ Qualquer truque contra a emoção..." Se lembram dessa música? Provavelmente os mais novos não vão lembrar, mas essa é do Leoni e Paula Toller se não me engano, se chama Garotos e foi cantada pelo Kid Abelha nos anos 80. Mas enfim eu estava ouvindo essa música e fiquei pensando: em pleno 2011, quantas pessoas ainda escondem uma incrível capacidade de amar, atrás de uma proposta de não se entregar, não se envolver.

Esse lance de ficar perto, mas não se ligar totalmente, de levar um relacionamento de preferencia sem consistência, ou seja, não ficar afim para não dançar, me faz pensar se de repente, é como se essa coisa de se apaixonar pra valer fosse historia de folhetim. Vai ver que é. Afinal nesses tempos de computador, smartphones, talvez o lance seja mesmo jogar no HD do computador um pacto implícito de esquecimento.

Muita gente acha que a solução é acionar o controle remoto e localizar no DVD da existência aquelas amizades hiper coloridas, que você liga e desliga quando quer. Estou falando nesse tom meio irônico, não porque seja contra se ter um coração com todas as cores do arco-íris, até acho que é assim que a gente aprende a ser. O que me preocupa neste tipo de "romance de estação" como diz a música, é que por ele ser tão rápido, ele não se cristaliza, não adquire forma e nem apura o sabor. Fica uma coisa assim nem quente, nem frio, nem inverno, nem verão. Eu sou mais o direito de chorar de amor, morrer de amor, viver de amor, acho até que já deu pra sacar, em outra palavras, que sou um cara romântico.

Mas falando sério, o que se percebe é que essa liberdade total, hiper desejada, fica tão completa que até muda de nome e passa a se chamar solidão. Você concorda?
E nessa matemática dos sentimentos, o que me incomoda é a perda da coisa mais emocionante do desejo, que é desejar com emoção.

Uma vez estava com 3 amigos, que são considerados 3 caras chocantes (no antigo sentido da palavra, algo que choca ou desagrada), são 3 "garotos-transas" que só encaram mulheres como objetos e fiquei pensando o que se passa na cabeça daqueles 3 afoitos "garanhões". Será que o esforço de uma geração que batalhou para revolucionar os costumes, que acreditou ter descoberto um jeito de gostar livremente (se não entendeu pergunte aos seus pais, avos como eram os relacionamentos de antes ou procure saber sobre os hippies que tiveram na década de 70, muita influencia aqui nos costumes do Brasil), será que tudo isso só serviu para a gente acabar nesse amor com gosto pasteurizado de hambúrguer?

Garotos (e garotas) perdem tempo pensando, exercitando o jogo de não se dar realmente, de forma completa e total. O que sobra é essa anulação de sentimentos. Será que não vale a pena deixar crescer essa erva daninha e danada que é a paixão? Garotos (e garotas) insisto, não se envolvem para não ter que sofrer. Cá entre nós, prefiro ter o coração partido de tanto amar a esses zumbis de outono perdidos na solidão da cidade. Para mim, se envolver totalmente é o melhor jeito de mergulhar nesse mundo secreto e maravilhoso que existe em cada um de nós.

As pessoas (em sua maioria) preferem quantidade, eu prefiro qualidade e intensidade!! Como diz a canção "garotos perdem tempo pensando", eu também adoro perder tempo pensando nos sentimentos e na maneira de sentir das pessoas, mas ainda acho que qualquer truque vale na hora de recuperar a emoção. E você?